segunda-feira, 29 de setembro de 2008

'Feliz ou infeliz'

Vão breves passando
Os dias que tenho.
Depois de passarem
Já não os apanho.
De aqui a tão pouco
Ainda acabou.
Vou ser um cadáver
Por quem se rezou.
E entre hoje e esse dia
Farei o que fiz:
Ser qual quero eu ser, Feliz ou infeliz. Fernando Pessoa

(começamos ao contrário)

Esta noite em que o céu traz um brilho mais forte, em que o fim do dia levou o sol reflectido nas ondas do mar, ficou apenas a memória no cheiro do meu cabelo. Uma noite em que o sono teima em não chegar. Tento adormecer e recordo no corpo o quente da areia, a brisa que traz o cheiro daquela criança que brinca com a bola junto à água, aquela criança que não vejo, apenas oiço e imagino. Imagino como é o seu sorriso, a alegria que sente com a nova bola azul e quanto lhe agrada o toque das mãos macias e cheias de ternura da mãe, que o protegem do sol. O cheiro daquele creme. Pareceu-me acordar com o suave toque de um beijo e a tua cara quis encher-me o olhar, esbocei o meu primeiro sorriso ensonado e pensei como é bom acordar. Acordei e percebi que enquanto sonhava acordar apenas tinha conseguido adormecer e que o meu sono se mantinha leve conseguindo pensar acordar com o teu toque. O meu coração decide como durmo, como acordo, como sorriu, como olho para quem me olha. Só ele sabe quem sou. Acho que por instantes consigo deixar de pensar e uma chama invisível ou qualquer coisa impossível faz-me acreditar que em silêncio trocámos palavras de um novo dialecto que imaginamos. Por mais tempo ou gente que passe, por mil anos que seja, será sempre pouco.
*obrigada Jorge Palma