quarta-feira, 5 de novembro de 2008

começamos ao contrário

Começamos? De certeza continuamos. Interrompemos, terminamos, ficamos em pausa. Somos e acontecemos. Para cinzentos e curtos bastam-nos os dias. Se somos, é assim que estamos, acontecemos e fazemos acontecer. Somos gerados e geramos, não nos deixam parar. Desta ou de outra maneira viveremos sempre; agora, aqui, contigo ou com o outro. De pé, deitados, na nossa memória e na memória dos outros. O sangue corre-nos nas veias e nós corremos atarefados nas artérias dos dias da nossa cidade. Não olhamos para nós, menos para os outros e quando, como hoje, de repente me vejo reflectida no vidro da montra de sapatos, nem me reconheço. Que pessoa vê quem me olha, que sou eu afinal? Reconheço-me nas reacções dos outros, nas minhas mãos e nos passos que dou. Conheço o eco da minha voz e como ressoa na minha cabeça. Entrego-me aos nossos dias, às mudanças de tempo, aos cheiros e apetites. Desligo o fio, largo-me do ancoradouro e ando à deriva. As horas são outras, são as minhas quando há consciência. Adormeço e sobe o pano, entra o andarilho, o trintanário das minhas ideias.