terça-feira, 9 de dezembro de 2008

começamos ao contrário

'Ando entre o usado e o emprestado'*. Que objectivos? parece repetirmos os locais, as mesmas falas, repetimo-nos. Vemos as mesmas caras até naqueles que acabamos de encontrar. Entramos e saímos da nossa vida, da vida dos outros, e nada parece alterar-se. Passamos estados de graça, de riso ou de choro. Estamos bem agora e logo deixamos de estar, regressando por vezes. Entre o usado dos meus sentimentos e o usado dos outros, empresto-me momentos de satisfação mas, logo são chamados à sua origem. Sentimos também a necessidade de deitarmos a cabeça no nosso étimo, causa da nossa insensatez. Talvez eu ou o outro, talvez agora, aqui ou mais além tudo se esclarecerá. Até o acidental, o imperfeito, não é tomado em sentido absoluto.

*Brideshead Revisited

terça-feira, 11 de novembro de 2008

a litle while, just a litle...

'You might even feel as if your wings have been clipped and that there is less free will available to you now. But don't give up, even if you must be quiet for a while longer.'

wake up!

começamos ao contrário

Caminhava leve e lenta sobre as vistas da cidade. O rio não corria naquela manhã, parecia deslizar, quase a planar entre as margens. Vi o meu olhar extasiado reflectido no vidro do eléctrico e dali vi passar a casa. Era um prédio comum, branco. As varandas marcavam de forma romântica aquela fachada e acompanhavam o desenho dos azulejos que as desunia do primeiro piso, marcado de forma arrogante por uma grande entrada de madeira e grades verdes. Uma rua estreita onde todos se conhecem, pode fazer-se uma vida ali. Há jornais e cheiro a café, pão e fruta, há restaurantes de gente simpática, podemos correr aromas desde o japão às nossas pataniscas. Conhecem-se gerações. Á noite enche-se a rua de luzes, de risos, músicas e vozes. Pelas janelas abertas deste prédio, vêm-se familias a jantar, casais a ver filmes aconchegados no sofá, grupos de amigos sentados em volta de uma mesa e, no entanto, no meio de todo este movimento tudo me parecia desgarrado e passageiro. Talvez até um pouco triste e cruel. A minha roupa não me cabe, já não sei onde fica a minha casa. Perde-se o norte por vezes, é o que dizem. Fiquei parada a olhar, fiquei fixada nestas janelas, na esperança de me ver. De poder sorrir e acenar-me. De me ver feliz e envolvida.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

começamos ao contrário

Começamos? De certeza continuamos. Interrompemos, terminamos, ficamos em pausa. Somos e acontecemos. Para cinzentos e curtos bastam-nos os dias. Se somos, é assim que estamos, acontecemos e fazemos acontecer. Somos gerados e geramos, não nos deixam parar. Desta ou de outra maneira viveremos sempre; agora, aqui, contigo ou com o outro. De pé, deitados, na nossa memória e na memória dos outros. O sangue corre-nos nas veias e nós corremos atarefados nas artérias dos dias da nossa cidade. Não olhamos para nós, menos para os outros e quando, como hoje, de repente me vejo reflectida no vidro da montra de sapatos, nem me reconheço. Que pessoa vê quem me olha, que sou eu afinal? Reconheço-me nas reacções dos outros, nas minhas mãos e nos passos que dou. Conheço o eco da minha voz e como ressoa na minha cabeça. Entrego-me aos nossos dias, às mudanças de tempo, aos cheiros e apetites. Desligo o fio, largo-me do ancoradouro e ando à deriva. As horas são outras, são as minhas quando há consciência. Adormeço e sobe o pano, entra o andarilho, o trintanário das minhas ideias.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Ficamos à espera

começamos ao contrário

Lamento. Ouve-se o lamento nas ruas, são tempos de tal, ouve-se o sino em pranto e eu lamento o que nos coube em sorte. Se entrar em mim lamento apenas ter acreditado. Não nos lamento, não te lamento nem tão pouco me ausento de mim por tal mas, fica o lamento de me envolver sem sustento. Não me faltas, faltaste apenas enquanto acreditei que suportavas o alimento da minha sensibilidade. Não lamentes, não sintas muito ou pouco pelo afastamento que sempre foi e muito menos por julgares o meu lamento, que cuidas apenas derramar-se pela nossa ausência. Iludes-te, tal como já eu me iludi. Não materializes o meu silêncio como uma manifestação de carência de ti, numa formação mal ajuízada . Sossega e mostra a gratidão em consciência de me teres tomado por conhecido. Ausentaste-te na experiência do universo das impressões, das sensibilidades e intuições. A oportunidade e o ensejo encarregar-se-ão de ti. Boa sorte.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

yumeji's theme

caminhamos lado a lado com as janelas e as portas. as luzes são difusas como os nossos pensamentos. deixamo-nos no intervalo das palavras em momentos infindos. os tecidos cobrem-me o corpo em tons de perfeição e tu deslizas distinto em contemplação. não seremos como eles, dizes.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

(começamos ao contrário)

prolongamos as nossas horas, as nossas e as de cada um, certamente assim seria se o efeito da mudança cessasse. Se ficassemos suspensos no nosso prazo enquanto dilata a nossa existência. adversa esta atitute, adversa ao correr de nós. imprópria à evolução inevitável, inadequada a prosperar-mos enquanto sujeito. o tempo não se compadece com hesitar. quero ser, quero que me note quem quero. não quero representar por caracteres, quero que me sintam pondo em acção nos dias o papel que tenho na peça que não se quer parada. ponho fim ao que me prende inerte. o frio que suporto contem a ânsia do calor, daquele calor que me inflama e me eleva a alma. é desse que quero existir, nesse que quero estar e fazer parte. se-lo! que o calor me corra nas veias, que eu o volte a exalar das ventas.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

(começamos ao contrário)

passamos dias enfermos, dias em que as cores do outono tomam conta do nosso espírito. no meio dos pálidos e das madeiras há os tons rubros e escarlates que nos permitem um feixe de luz que queremos guardar para o inverno. se num flanco nos sentimos fragilizados, noutro encontramos a serenidade. tempo de introspecção, quase num tom de experiementação que tomaria estas cores se o tivessemos de pintar. tempo de passarmos da impetuosa energia dos dias de sol para o intenso rigor do inverno. não gosto destes dias. sou tal como eles e por isso não me agrada saborea-los. recuso o prazer que me dão os tons da alma, de pensamentos outonais. não quero contemplar. aceito sem hesitações a rudeza do frio que me faz desejar mais que nunca o calor, quero antes sentir essa falta desejando-a sem pudor que ficar na languidez da vontade.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

(começamos ao contrário)

Adiantamo-nos na nossa historia. Avançamos nas nossas memorias para podermos continuar...para que deixemos o que passou e entrarmos no que se está a passar, sem nunca conseguimos deixar de pensar que se passará.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Eu...

acordei e não queria, comi e não devia, bebi e não podia, fui e não pretendia, possuí e não desejei, pensei e não disse, tentei e não consegui.

(começamos ao contrário)

Dormi, adormeci de cansada. A vontade de sair desse estado de dormência era nenhuma. Tudo parecia sereno e resolvido nessa tangente do real. Gosto de pensar que a minha cama é confortavel com o teu corpo, que o meu aquece com a ideia da tua carícia, que a rua fica silenciosa com o nosso olhar e que a fome sacia com a ternura. Os problemas e as nossas diferenças não têm papel onde estive e quis ficar. Fico neste limbo e nesta ansiedade de querer que seja assim depois do despertar, depois de ficar de pé, depois do banho, depois de perceber que tenho fome e que há barulho na rua, que não estamos sós e que as nossas diferenças são o que nos torna iguais. Fico esmagada entre o que tenho e o que quero, na esperança de se tornarem iguais tal como nós.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Pragma ou Philia ?

quando Eu mostro psique Tu apareces-me eros...

(começamos ao contrário)

Precisei de apanhar ar, aproveitar o sol que é das poucas coisas que me aquece ainda. Percorri ruas que não existiam antes ali, passei por pessoas que conheço só de nunca as ter ouvido. Ando ou mexe-se a cidade e pareço não ter saído nem um pouco de ao pé de ti. Tenho alguma fome, sem tomar conta dos meus passos entro na confeitaria, peço o que não me lembro de comer e vejo no meu reflexo sobre a montra dos bolos o teu, que não me cabe. O que eu gostava de os ver encaixar, como se fossem sombras do mesmo objecto. A luz muda e a sombra vai rodando, ganhando novas formas, encontrando diferentes superfícies mas o objecto, a essência, o princípio de todas as formas que toma, esse é sempre o mesmo. Como nós deveriamos ser. O sol faz tudo acontecer, rodamos, crescemos, dormimos e envelhecemos segundo os raios de sol. Dele apenas deveriamos depender mas somos muito mais que matéria e a nossa alma tudo confunde. Queria poder dizer-te que estou bem, que estamos e vamos ficar bem. É isso que a alma me pede mas pede-me a tua também e essa...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

'Feliz ou infeliz'

Vão breves passando
Os dias que tenho.
Depois de passarem
Já não os apanho.
De aqui a tão pouco
Ainda acabou.
Vou ser um cadáver
Por quem se rezou.
E entre hoje e esse dia
Farei o que fiz:
Ser qual quero eu ser, Feliz ou infeliz. Fernando Pessoa

(começamos ao contrário)

Esta noite em que o céu traz um brilho mais forte, em que o fim do dia levou o sol reflectido nas ondas do mar, ficou apenas a memória no cheiro do meu cabelo. Uma noite em que o sono teima em não chegar. Tento adormecer e recordo no corpo o quente da areia, a brisa que traz o cheiro daquela criança que brinca com a bola junto à água, aquela criança que não vejo, apenas oiço e imagino. Imagino como é o seu sorriso, a alegria que sente com a nova bola azul e quanto lhe agrada o toque das mãos macias e cheias de ternura da mãe, que o protegem do sol. O cheiro daquele creme. Pareceu-me acordar com o suave toque de um beijo e a tua cara quis encher-me o olhar, esbocei o meu primeiro sorriso ensonado e pensei como é bom acordar. Acordei e percebi que enquanto sonhava acordar apenas tinha conseguido adormecer e que o meu sono se mantinha leve conseguindo pensar acordar com o teu toque. O meu coração decide como durmo, como acordo, como sorriu, como olho para quem me olha. Só ele sabe quem sou. Acho que por instantes consigo deixar de pensar e uma chama invisível ou qualquer coisa impossível faz-me acreditar que em silêncio trocámos palavras de um novo dialecto que imaginamos. Por mais tempo ou gente que passe, por mil anos que seja, será sempre pouco.
*obrigada Jorge Palma

terça-feira, 23 de setembro de 2008

(começamos ao contrário)

Falamos de tudo e de nada como se disso dependesse o futuro. Por momentos achamos que a nossa vida se define naqueles instantes. Tanta urgência em coisa nenhuma. Perdemo-nos do agora a pensar no que poderá vir a ser. Levamos a vida a correr, o momento é sempre a passagem para o que esperamos, até percerbermos que esse passa enquanto pensamos no queremos vir a passar. O equilibrio, o momento de pausa. Acontece e sentimo-nos perdidos, não sabemos o que fazer com tudo o que tanto esperámos, apercebemo-nos que temos receio de nós, das nossas incapacidades. São essas que nos fazem correr e repetir incessantemente os mesmos erros e perder o verdadeiro momento.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Ser o que sou

"Recorro aos dias em que não bebi tanto como hoje para não merecer nada do que digo, presto homenagem ao meu instinto por aquilo que não faço, roer a corda do que me prende ao que quero ser, para que possa finalmente ser o que sou."Virginia Wolf

Falar do que não se consegue explicar

Há tanta suavidade em nada dizer
E tudo se entender. Fernando Pessoa

(começamos ao contrário)

- momentos em que fixamos o olhar, que procuramos saber. Diluímos a timidez da nossa cumplicidade nas infinitas manifestações de ternura, nos abraços de calor que parecem eternos. -

A vida como água

Entendo a vida como a água, pode ser serena ou tumultuosa, doce ou salgada e fácilmente se adapta ao que a reveste. Abre o seu caminho na terra mais mole como na pedra mais densa e aquilo que lhe aparece como obstáculo rápidamente se transforma no indicador do novo caminho. Creio que será como a água que temos que viver, não é que isto signifique que apenas temos que nos deixar levar, viver ao gosto das marés, mas antes ser determinados, agir de forma transparente e seguir, com quem nos vamos encontrando, o nosso caminho.

(começamos ao contrário)

De repente era como se fosse o primeiro encontro. Naquele bar simpático, com todos os requisitos que uma situação destas exige: música boa e calma, um espaço atraente e a magnifica vista sobre a cidade e sobre o rio. As ruas serpenteiam e organizam-se numa teia aparentemente desorganizada. O rio reflecte os últimos raios de sol e a lua já se faz notar nos olhares mais atentos. Os pináculos das igrejas cortam a imagem plana e serena do rio que corre ao som da conversa dos dois. São estrangeiros nesta cidade, são estrangeiros ao seu coração.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

(começamos ao contrário)

'Como te foste lembrar com esse pormenor... É verdade que ficou sempre um certa dúvida entre nós. Como conseguimos partilhar tanta coisa, sem nunca sequer falarmos sem ninguém? Desde o início... Talvez nem nunca me tivesses visto e eu conhecia-te. Já te tinha visto cantar e de repente falámos e descompões-me com uma música.' - são sensações interessantes, muitas, fortes e estranhas. Nunca antes me tinha acontecido. Tanta atenção, preocupação, carinho e outros sentimentos que se esperam de quem nos conhece. Retribuir? E como? Que poderia estar eu a retribuir? É um total desconhecido a quem confiei o meu sorriso aberto...não se explica... -

(começamos ao contrário)

'Lembro-me do que trazias vestido. Fizeste-me recordar a alegria das minhas raízes. Vi-te antes do concerto e sabia-te na plateia. No fim, quando nos cruzamos perdi o jeito de te dizer Olá, nem sabia como. Tu falaste-me e eu não consegui senão responder' - como serei capaz de explicar passado todo este tempo aquilo que nem eu cheguei a perceber. Pensei que tinha conseguido resolver esta questão mas agora voltou tudo. Voltou tudo como se nunca de cá tivesse saído. Lembro-me do vestido, o cabelo, aquele sorriso e de como ficava cada vez que a via. Por querer falar, por a querer conhecer-

A procura da terra do Nunca

'É o tique-taque do crocodilo, não é?....o tempo corre atrás de todos nós...' Mrs Wendy

de um segundo para o outro, sem intenção, sem consciência e sem controlo, perde-se a criança e nasce o adulto

(começamos ao contrário)

Entre conversas e olhares de reconhecimento buscam no outro aquilo que os uniu em tempos.
Ali está. Está no mesmo lugar, vestido de outras sensibilidades pintado com outras cores mas a dançar ao mesmo tom. Os movimentos embalam as sensações com a ternura com que se embala uma criança. Lembram o dia que involuntariamente se ligaram, lembram como conseguiram manter a proximidade mesmo quando tudo o resto parecia querer o contrário.
Ela continuava a sorrir como se nada afectasse o seu mundo e ele percebia agora onde residiam as fragilidades. Como se disfarçavam os medos e as inseguranças. Mais uma vez surge um entendimento que não se explica

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

(começamos ao contrário)

Percorrem por fim, a par, as ruas que sempre foram de turistas e que agora sendo suas parecem apenas ser uma pequena curiosidade boémia. Salta o cheiro das livrarias e dos alfarrabistas, as conversas das gentes de teatro nas galerias que residem como ponto de encontro. Aqueles que estão de plantão nas esplanadas continuam e, eles viajam sem sair daquele labirinto orgânico de ruas que exploram quase sem olhar. Os sentidos estão apurados.Conversam e são frequentemente assaltados por acontecimentos passados, como se escutassem a voz de um narrador que habita a cabeça de cada um. Tudo faz sentido, agora sim podem ser ditas algumas das palavras contidas por falta de compreensão do seu significado. As ideias têm agora condição de entender o que aquele ser que se mantém ainda exterior a si provoca. Como se fosse um déjà-vu que nunca o foi por falta de percepção. Era real agora e respirava-se fundo naquele café, como quem conclui uma missão.

realidade

A ficção é de facto a única realidade que perdura. no mais contraditório que isto possa parecer. será simples depois de se fazer o seguinte exercício; desde o principio dos tempos que o homem se entrega à construção material de testemunhos, eternizar a sua presença. Tudo o que possa marcar e até criar a realidade mas, são apenas as ficcionais, as não reais, que permanecem. Na eternização de algo imaterial não persiste o desgaste do físico, a erosão dos tempos.
"The difference between fiction and reality? Fiction has to make sense." Tom Clancy

(começamos ao contrário)

Se alguma coisa tivera sempre em comum com aquele que ainda hoje se mantém um desconhecido, mesmo sem disso ter consciência, foi a musica. Aquela que um dia foi descrita por alguém como sendo ‘a alma da linguagem’. Foi essa que os despertou e que dispensou as palavras dando lugar a qualquer coisa que lhes encheu a alma. É essa a razão desta história. Poderiam ser as origens, as ruas ou até mesmo as cidades mas pelo contrário, essas encerraram sempre o papel de fronteira. Aquela fronteira que conhecemos como física mas que aqui começa e cresce como um sentimento qualquer.No fundo o que a move agora e acaba por provocar este recotejo, não é mais do que a causa do que o tem feito viver até então. Aquilo que o levou a terras que não a sua, o que o levou a procurar aquilo que chegou a acreditar nunca vir a encontrar. Nunca soube e julga ainda continuar a não saber que sentimento é aquele ’... es demasiado tarde. Te ha pillado’.

felicidade

"If there were in the world today any large number of people who desired their own happiness more than they desired the unhappiness of others, we could have a paradise in a few years." Bertrand Russell

terça-feira, 16 de setembro de 2008

(começamos ao contrário)

Depois de tantos anos, quase já sem a lembrança um do outro, reencontram-se mas agora na cidade que fez crescer aquela intimidade impalpável. Ali estavam finalmente os dois. Palpita a vontade de falar e a comoção comanda o desenrolar dos acontecimentos. Estão mais emocionais que nunca.
Quem diria que numa viagem, numa plateia de um local distante, estava novamente em palco. Ao entrar, alguma coisa lhe desperta a atenção, aquela música que ecoa agora na voz de alguns milhares de pessoas parece ser a sua. As memórias fluem à velocidade do sangue que viaja cada vez mais depressa nas veias e, mesmo depois de todo este tempo, são aquelas pequenas coisas que lembra primeiro. Habitualmente são chamadas de imperfeições mas, não o são na realidade. Pelo contrário, acredita que são essas as que nos atribuem real valor. Aquelas que nos definem e nos tornam especiais. Pequenas idiossincrasias que só conhece quem deixamos entrar no nosso pequeno mundo, aquilo que faz do outro nosso. Tudo muda quando de repente percebemos que não fomos nós a escolher. Tudo muda, quando é o outro que vê para além de nós, que nos olha como quem nos lê. Que nos diz conhecer como nem nós somos capazes.

'quem está cheio de si não pode amar'

conocer y amar se siguen como el efecto sigue a la causa, según las palabras de san Agustín: "Se puede amar bien lo que no se ve; pero nadie ama lo que no conoce."

começamos ao contrário

Urge a necessidade de voar, de sair sem destino, quebrar rotinas e conseguir respirar fundo. Deixar que as questões interiores encontrem a sua própria resolução, como peças de Tetris apenas de cores diferentes.