terça-feira, 16 de setembro de 2008

(começamos ao contrário)

Depois de tantos anos, quase já sem a lembrança um do outro, reencontram-se mas agora na cidade que fez crescer aquela intimidade impalpável. Ali estavam finalmente os dois. Palpita a vontade de falar e a comoção comanda o desenrolar dos acontecimentos. Estão mais emocionais que nunca.
Quem diria que numa viagem, numa plateia de um local distante, estava novamente em palco. Ao entrar, alguma coisa lhe desperta a atenção, aquela música que ecoa agora na voz de alguns milhares de pessoas parece ser a sua. As memórias fluem à velocidade do sangue que viaja cada vez mais depressa nas veias e, mesmo depois de todo este tempo, são aquelas pequenas coisas que lembra primeiro. Habitualmente são chamadas de imperfeições mas, não o são na realidade. Pelo contrário, acredita que são essas as que nos atribuem real valor. Aquelas que nos definem e nos tornam especiais. Pequenas idiossincrasias que só conhece quem deixamos entrar no nosso pequeno mundo, aquilo que faz do outro nosso. Tudo muda quando de repente percebemos que não fomos nós a escolher. Tudo muda, quando é o outro que vê para além de nós, que nos olha como quem nos lê. Que nos diz conhecer como nem nós somos capazes.