Caminhava leve e lenta sobre as vistas da cidade. O rio não corria naquela manhã, parecia deslizar, quase a planar entre as margens. Vi o meu olhar extasiado reflectido no vidro do eléctrico e dali vi passar a casa. Era um prédio comum, branco. As varandas marcavam de forma romântica aquela fachada e acompanhavam o desenho dos azulejos que as desunia do primeiro piso, marcado de forma arrogante por uma grande entrada de madeira e grades verdes. Uma rua estreita onde todos se conhecem, pode fazer-se uma vida ali. Há jornais e cheiro a café, pão e fruta, há restaurantes de gente simpática, podemos correr aromas desde o japão às nossas pataniscas. Conhecem-se gerações. Á noite enche-se a rua de luzes, de risos, músicas e vozes. Pelas janelas abertas deste prédio, vêm-se familias a jantar, casais a ver filmes aconchegados no sofá, grupos de amigos sentados em volta de uma mesa e, no entanto, no meio de todo este movimento tudo me parecia desgarrado e passageiro. Talvez até um pouco triste e cruel. A minha roupa não me cabe, já não sei onde fica a minha casa. Perde-se o norte por vezes, é o que dizem. Fiquei parada a olhar, fiquei fixada nestas janelas, na esperança de me ver. De poder sorrir e acenar-me. De me ver feliz e envolvida.