ouvimos o vazio. aquele som de barulho nenhum que parece ensurdecer-nos. perdemo-nos em pensamentos que não temos. alimentamos os nossos dias de bocas vazias. enchemos a nossa vida de lugares comuns onde nunca chegamos a estar. falamos com pessoas que não ouvimos e somos insistentemente exteriores a nós. começamos ao contrário e seguimos no sentido inverso. desenrolamos a espiral do nosso pensamento sem encontrar o principio. finalmente chegamos a lugar nenhum e fechamos os olhos. vemos finalmente as cores, a luz, as coisas, vejo-te. só assim te consigo ver, quando fecho os meus olhos. encontramo-nos finalmente sem nos podermos tocar. olhamo-nos sem que veja os teus olhos. ficamos ali lado a lado sem que nenhum espaço seja partilhado.